"A filosofia muda o mundo ao manter-se como teoria." Theodor W. Adorno, 1969.
Spiegel: Ciência como torre de marfim, portanto?
Adorno: Não tenho temor algum da expressão torre de marfim. Essa expressão já teve dias melhores, quando Baudelaire a empregou. Contudo, já que o senhor fala de torre de marfim: creio que uma teoria é muito mais capaz de ter conseqüências práticas em virtude da sua própria objetividade do que quando se submete de antemão à prática. O relacionamento infeliz entre teoria e prática consiste hoje precisamente em que a teoria se vê submetida a uma pré-censura prática.
(...)
Spiegel: Seja como for, ocorre que os estudantes referem-se, às vezes direta e outras vezes indiretamente, à sua crítica da sociedade. Sem as suas teorias talvez nem tivesse surgido o movimento estudantil.
Adorno: Isso eu não quero negar; apesar disso, tenho dificuldade para captar essa relação. Estou disposto a acreditar que a crítica à manipulação da opinião pública, que vejo como inteiramente legítima também na forma de demonstrações, não teria sido possível sem o capítulo sobre "indústria cultural" que Horkheimer e eu publicamos na Dialética do Esclarecimento. Mas acredito que muitas vezes a relação entre teoria e prática é representada de modo demasiado sumário.
(...)
Spiegel: O Senhor continua a ver como a forma mais significativa e necessária da sua atividade na República Federal Alemã fazer progredir a análise das condições da sociedade?
Adorno: Sim, e mergulhar em fenônemos singulares muito determinados. Não me envergonho de tornar público que estou trabalhando em um grande livro de estética.
Theodor Adorno, Entrevista de Adorno, Revista Lua Nova 60, São Paulo, 2003, pp. 131-138.
Imagem: Mosaico moderno com um dos símbolos de Maria: a torre de marfim. Museu do Anjo da Guarda, Detroit, EUA.
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