segunda-feira, abril 27, 2009

Berliner Bären


























Ursos berlinenses, Primavera 2009, Berlim.

domingo, abril 12, 2009

De que serve a bondade?

Bertolt Brecht

I
De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados, ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade
Se os livres têm de viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?

II
Em vez de serem apenas bons, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
ou melhor: que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres, esforcem-se
para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis, esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio!

BRECHT, Bertolt. Poemas 1913-1656. Tradução: Paulo Cézar de Souza. São Paulo: Ed. 34, 2001, p. 129

terça-feira, abril 07, 2009

Renato Janine Ribeiro: o "Leigo Culto"


Grupo Corpo, 21, 1992.


Grupo Corpo, Nazareth, 1993.


Grupo Corpo, Bach, 1996.


Grupo Corpo, Parabelo, 1997.


Grupo Corpo, Benguelê, 1998.


Grupo Corpo, O corpo, 2000.


Grupo Corpo, Santagustin, 2002.


Grupo Corpo, Onqotô, 2005.


Grupo Corpo, Breu, 2007.

"A cultura [...] tem forte papel inspirador nas ciências humanas. Estas vivem de ser leigas. Profissionalizaram-se, o que quer dizer que se tornam precisas e rigorosas, mas continuam à escuta de seus vizinhos, com quem aprendem. Seria interessante esta discussão: quanto, das idéias mestras de nosso tempo, veio das artes, da literatura ou mesmo da escuta do colega de outro departamento, de outra profissão? No começo de As palavras e as coisas, a citação que Foucault faz de Borges e a análise que propõe de um quadro de Velázquez inspiraram o filósofo ou apenas vieram ilustrar conceitos já obtidos pela via árdua do raciocínio? São mero truque para tornar a exposição mais palatável, ou fizeram parte da pesquisa? Despertaram o olhar de Foucault para a novidade, ou pertencem à retórica com que ele nos quer seduzir? Eis a questão. Se, como penso, elas tiveram um papel propriamente produtivo, disso se seguirá que para nós a leitura possa ter parte essencial na escrita, ou a recepção na criação, ou a cultura na pesquisa."

RIBEIRO, Renato Janine. "Dificuldades de um leigo," in: BOGÉA, Inês (org). Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo. São Paulo: Cosac e Naify, 2000, pp. 68-80.

Para acessar o site do Grupo Corpo, clique no título deste post.

Figuras Míticas de Odilon Redon


Odilon Redon, Beatriz, 1885.


Odilon Redon, São João, 1892.


Odilon Redon, Orfeu, 1898.


Odilon Redon, Orfeu, 1900.


Odilon Redon, O Buda, 1905.


Odilon Redon, Ofélia entre as flores, 1905-08.


Odilon Redon, A queda de Faetonte, 1910.


Odilon Redon, A esfinge vermelha, 1912.


Odilon Redon, O ciclope, 1914.


Odilon Redon, Parsifal, 1914.

Da eternidade da alma humana


Odilon Redon, Evocação das borboletas, 1910-12.

"Todos os anos são meus," diz a alma humana, "não existe época proibida aos grandes espíritos; não há idade inalcançável ao pensamento. Quando surgir o dia em que se dividirá o que é humano e divino, este corpo ficará ali mesmo onde foi encontrado e me reunirei aos deuses. Mesmo agora não estou longe deles; apenas ainda sou detida pela existência terrestre."

Tais esperas da vida mortal são apenas um prelúdio para uma outra existência, melhor e mais durável. Da mesma forma como durante nove meses somos abrigados e preparados pelo ventre materno não para si, mas para onde deve nos lançar quando já somos capazes de respirar e viver ao ar livre, assim, durante esse período que vai da infância à velhice, amadurecemos para um outro nascimento.

Um outro nascimento nos aguarda, uma outra ordem das coisas. Ainda não podemos suportar o céu senão de longe, por isso prevê com coragem a hora decisiva não para a alma, mas para o corpo. A tudo que te rodeia, olha como móveis em um quarto de hospedaria, pois estás de passagem. A natureza despoja tanto quem entra quanto quem sai.

Não te é permitido levar mais do que tens, e até o que trouxeste para a vida ao nascer aqui deverá ser deixado. Perderás a pele, o mais superficial de teus envoltórios; perderás os ossos e os nervos, aquilo que sustenta as partes informes e flácidas de teu corpo.(...) Por que te apegas tanto a estas coisas como se tuas fossem? Apenas estás coberto por elas. Dia virá em que elas serão tiradas e, então, estarás liberto desse ventre repugnante e infecto."

SÊNECA. Aprendendo a viver. Porto Alegre, L&PM, 2009, pp. 119-121.

segunda-feira, abril 06, 2009

Aprendendo a viver com Sêneca


Detalhe de cena do filme O curioso caso de Benjamin Button (2008), dirigido por David Fincher e baseado no livro homônimo de F. Scott Fitzgerald (1921).

Reivindica o teu direito sobre ti mesmo e o tempo que até hoje foi levado embora, foi roubado ou fugiu, recolhe e aproveita este tempo.


Convence-te de que é assim como te escrevo: certos momentos nos são tomados, outros nos são furtados e outros ainda se perdem no vento. Mas a coisa mais lamentável é perder tempo por negligência. Se pensares bem, passamos grande parte da vida agindo mal, a maior parte sem fazer nada, ou fazendo algo diferente do que se deveria fazer.

Podes me indicar alguém que dê valor ao seu tempo, valorize o seu dia, entenda que se morre diariamente? Nisso, pois, falhamos: pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte.

Então, caro Lucílio, procura fazer aquilo que me escreves: aproveita todas as horas; serás menos dependente do amanhã se te lançares ao presente. Enquanto adiamos, a vida se vai. Todas as coisas, Lucílio, nos são alheias; só o tempo é nosso. A natureza deu-nos posse de uma única coisa fugaz e escorregadia, da qual qualquer um que queira pode nos privar. E é tanta a estupidez dos mortais que, por coisas insignificantes e desprezíveis, as quais certamente se podem recuperar, concordam em contrair dívidas de bom grado, mas ninguém pensa que alguém lhe deva algo ao tomar o seu tempo, quando, na verdade, ele é único, e mesmo aquele que reconhece que o recebeu não pode devolver esse tempo de quem tirou.

SÊNECA. "Da economia do tempo", in: Aprendendo a viver. Porto Alegre: L&PM, 2009, pp. 15-16.