quarta-feira, janeiro 28, 2009

Ulisses e as Sereias


Odisseu e as sereias. Pintura mural em Pompéia, 50-75 a.C.

Por Jeanne Marie Gagnebin

O primeiro motivo dessa alegoria consiste em interpretar o triunfo de Ulisses sobre as Sereias como o de uma forma de racionalidade sobre o mito, mais precisamente, como a transformação da magia em arte. Enquanto monstros imemoriais, aquáticos e femininos, as Sereias encarnam os poderes mágicos anteriores ao surgimento do sujeito como identidade racional e determinada. Sua força mágica de sedução provém da atração ou da saudade que continua exercendo a representação de uma indistinção feliz entre o si (selbst) e o mundo, lembrança da in-distinção dentre o recém-nascido e a mãe segundo Freud; mas sucumbir à sedução dessa felicidade também significa desistir da individuação e, portanto, arriscar a própria existência: os viajantes que se entregaram às Sereias foram por elas devorados. Ulisses resiste às Sereias, mas não abdica do gozo (incompleto) de escutar seu canto: reconhece o encanto, mas não cede ao encantamento. Neste gesto, os poderes da magia são condenados à ineficácia, uma expressão sem consequências práticas, uma mera forma separada da ação. Adorno e Horkheimer enfatizam tanto a beleza quanto a impotência da arte. O que a estética clássica caracterizou como sua grandeza, a saber sua relação com o nobre exercício da contemplação (em grego, theoria), ou seu caráter de "finalidade sem fim" (Kant), também é sinônimo de sua fraqueza maior: não ter mais poder de ação. Somente assim, aliás, a arte é tolerada em uma sociedade fundada sobre a dominação.

Jeanne Marie Gagnebin. "Resistir às Sereias." Cult, Dossiê Escola de Frankfurt, jan. 2009, p. 17.

domingo, janeiro 25, 2009

Wings of Desire / Asas do Desejo




















Cenas do filme Asas do Desejo (Wings of Desire). Título original, em alemão: Der Himmel über Berlin (O Céu sobre Berlim). Dir.: Wim Wenders, 1987.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Als das Kind Kind war...


Cena do filme Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin), 1987.

Lied Vom Kindsein

"Als das Kind Kind war,
war es die Zeit der folgenden Fragen:
Warum bin ich ich und warum nicht du?
Warum bin ich hier und warum nicht dort?
Wann begann die Zeit und wo endet der Raum?
Ist das Leben unter der Sonne nicht bloß ein Traum?
Ist was ich sehe und höre und rieche
nicht bloß der Schein einer Welt vor der Welt?
Gibt es tatsächlich das Böse und Leute,
die wirklich die Bösen sind?
Wie kann es sein, daß ich, der ich bin,
bevor ich wurde, nicht war,
und daß einmal ich, der ich bin,
nicht mehr der ich bin, sein werde?"

"Quando a criança era criança,
era tempo destas perguntas:
Por que eu sou eu e não você?
Por que estou aqui e não lá?
Quando começou o tempo e onde termina o espaço?
Será que a vida sob o sol nada mais é que um sonho?
Será que o que vejo, escuto e cheiro não é apenas
uma miragem do mundo anterior ao mundo?
Será que realmente existe o Mal e pessoas malvadas?
Como é possível?
Eu, que sou eu, não existia antes de existir.
E, no futuro, eu, que sou eu,
não serei mais quem eu sou."

Lied Vom Kindsein, Peter Handke
in: Wim Wenders, Asas do Desejo
(Der Himmel über Berlin), 1987.