sábado, maio 31, 2008

Lovers, por William Blake


William Blake, The Lovers' Whirlwind, Francesca da Rimini and Paolo Malatesta, 1824-27

O Eterno Retorno de Borges


Frans Hals, Jovem com um crânio (Vanitas), 1626-28.

"Se passo a mão de leve sobre a fronte,
se afago as lombadas desses livros,
se o Livro das Noites reconheço,
se giro a terceira fechadura,
se me demoro no umbral incerto,
se uma dor incrível me atordoa,
se recordo a Máquina do Tempo,
se recordo o tapete do unicórnio,
se mudo a posição enquanto durmo,
se a memória me devolve um verso,
repito o ritual inumeráveis
vezes em meu assinalado rumo.
Não posso executar um ato novo,
teço e torno a tecer a mesma fábula,
repito um repetido decassílabo,
torno a dizer o que outros me disseram,
as mesmas coisas sinto, sempre à mesma
hora do dia ou da abstrata noite.
Noite após noite o mesmo pesadelo,
noite após noite o austero labirinto.
Sou o cansaço de um espelho imóvel
ou pó de um museu.
Somente algo indesejado espero,
só espero esse dom, ouro da sombra,
essa virgem, a morte. (O castelhano
permite esta metáfora)."
BORGES, Jorge Luis. "Eclesiastes 1, 9." In: Obras completas III,
São Paulo: Globo, 1999, p. 338.

quinta-feira, maio 29, 2008

O Ser da Imagem, por Giorgio Agamben


William Turner, The Angel, Standing in the Sun, 1846, óleo sobre tela, Tate Gallery, Londres

"O ser da imagem é uma geração contínua (semper nova generatur). Ser de geração e não de substância, ela é criada a cada instante de novo, assim como acontece com os anjos que, segundo o Talmud, cantam os louvores de Deus e imediatamente precipitam no nada."
AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007, p. 52.

As Visões de William Shakespeare


Retrato de William Shakespeare



Henry Fuseli. Horatio, Marcellus e a cabeça do pai de Hamlet, 1780-5.



Henry Fuseli. Macbeth consultando a visão da cabeça armada, 1793–94.



John Everett Millais. Ofélia (detalhe), 1851–2.



William Blake. Oberon, Titânia e Puck dançando com as fadas, 1786



William Blake. Piedade, 1795.



Sir John Gilbert. The Plays of William Shakespeare, 1849.

terça-feira, maio 27, 2008

Ensaio sobre a cegueira, por José Saramago


Pieter Bruegel (O velho), O cego guiando o cego, 1568.

"Chegara mesmo ao ponto de pensar que a escuridão em que os cegos viviam não era, afinal, senão a simples ausência da luz, que o que chamamos cegueria era algo que se limitava a cobrir a aparência dos seres e das coisas, deixando-os intactos por trás de seu véu negro. Agora, pelo contrário, ei-lo que se encontrava mergulhado numa brancura tão luminosa, tão total, que devorava, mais do que absorvia, não só as cores, mas as próprias coisas, tornando-os, por essa maneira, duplamente invisíveis."
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, pp. 15-16.

quinta-feira, maio 22, 2008

Arzak Rhapsody, por Jean Giraud (Moëbius)


























Cenas da série animada "Arzak Rhapsody" (2002), escrita, desenhada e realizada pelo mestre dos quadrinhos franceses Jean Giraud (pseudônimo Moëbius).

segunda-feira, maio 19, 2008

A Queda dos Anjos Rebeldes, por Pieter Brueghel


Pieter Brueghel (O velho), A Queda dos Anjos Rebeldes, 1562.

terça-feira, maio 06, 2008

Partilha do Sensível, por Rancière


Juno Ludovisi, Mármore, obra romana do I século d.C.

"A estátua traz uma promessa política porque ela é expressão de uma partilha do sensível específica. Mas esta partilha pode ser entendida de duas maneiras opostas: de um lado, a estátua é promessa de comunidade pois é arte, é objeto de uma experiência específica, e institui assim um espaço comum, separado. De outro, ela é promessa de comunidade porque não é mais arte, uma vez que exprime somente uma maneira de habitar um espaço comum, um modo de vida que não conhece separação entre esferas de experiência específicas. A educação estética é então o processo que transforma a solidão da 'livre aparência' em realidade verdadeira e converte a 'ociosidade' estética em agir da comunidade vivente."
Jacques Rancière, Malaise dans l'esthétique, Galilée, 2004, p. 52.

As meninas de Velásquez, por Michel Foucault


Diego Velásquez, Las Meninas, 1656.

"Talvez haja, neste quadro de Velásquez, como que a representação da representação clássica e a definição do espaço que ela abre. Com efeito, ela intenta representar-se a si mesma em todos os seus elementos, com suas imagens, os olhares nos quais ela se oferece, os rostos que torna visíveis, os gestos que a fazem nascer. Mas aí, nessa dispersão que ela reúne e exibe em conjunto, por todas as partes um vazio essencial é imperiosamente indicado: o desparecimento necessário daquilo que a funda -- daquele a quem ela se assemelha e daquele a cujos olhos ela não passa de semelhança. Esse sujeito mesmo -- que é o mesmo -- foi elidido. E livre, enfim, dessa relação que a acorrentava, a representação pode se dar como pura representação."
Michel Foucault, As palavras e as coisas, Martins Fontes, 2002, pp. 20-21.