terça-feira, março 30, 2010

domingo, março 28, 2010

A Doutrina das Cores de Goethe


J. W. Goethe, Estudo para a doutrina das cores, 1809.

sexta-feira, março 26, 2010

Sobre a brevidade da vida


David Bailly, Auto-retrato com símbolos de Vanitas, 1651.

"1. Pode haver alguma coisa mais tola, me diga, que a maneira de viver desses homens que deixam a prudência de lado? Vivem ocupados para poder viver melhor: acumulam a vida, dissipando-a. Fazem seus projetos para longo tempo, porém esse adiamento é prejudicial para a vida, já que nos tira o dia-a-dia, rouba o presente comprometendo o futuro. A expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente. Daquilo que depende do destino, abres mão; do que depende de ti, deixas fugir. Para onde te voltas, para o que te dedicas? Todas as coisas que virão jazem na incerteza: vive daqui para diante.
2. Eis que o maior profeta [Virgílio], como que instigado por uma boca divina, para saudar-te canta os versos: 'O melhor da vida é o que foge primeiro aos miseráveis mortais'. 'Por que te demoras', ele pergunta, 'por que tardas?' Se não tomas a iniciativa, o dia foge e, mesmo que o tenhas ocupado, ele fugirá. Assim, é preciso combater a celeridade do tempo usando a velocidade, tal como de uma rápida corrente, que não fluirá para sempre, se deve beber depressa.
3. O poeta, que esplendidamente censura tua cogitação infinita, não fala de melhor idade, mas melhor dia. Estendes, com a tua avidez, aquilo que parece lento e seguro do tempo, mas que te foge de tal maneira em uma longa série de anos e meses? Ele te fala de um dia, deste próprio dia que foge.
4. Portanto, não há dúvida que o melhor dia é o primeiro que foge aos miseráveis mortais, isto é, aos ocupados. A velhice aflige tanto os seus espíritos infantis, que chegam a ela despreparados e desarmados. Na verdade, nada foi previsto: subitamente e sem estarem prontos chegam a ela, não percebendo que ficava mais próxima todos os dias.
5. Do mesmo modo que uma conversa, uma leitura ou qualquer reflexão maior desvia a atenção do viajante, que, de repente, se vê chegando ao seu destino sem perceber que dele se aproximava, assim é o caminho da vida, incessante e muito rápido, que, dormindo ou acordados, fazemos com um imenso passo e que, aos ocupados, não é evidente, exceto quando chegam ao fim".

Sêneca (4 a.C.? - 65 d.C.). Sobre a brevidade da vida, Porto Alegre, L&PM, 2006, pp. 46-48.

quinta-feira, março 18, 2010

Goethe sobre Shakespeare


Henry Fuseli, Titania e Bottom, c. 1790.

“Não me lembro de nenhum outro livro, ser humano, nem de qualquer acontecimento da vida que tanta impressão me tenha causado quanto essas peças magníficas (...). Parecem obra de um gênio celestial, que se aproxima dos homens para lhes dar a conhecer a si mesmos da maneira mais natural. Não são composições poéticas! Acreditamos encontrar-nos diante dos colossais livros do destino em que, uma vez abertos, sibila o vento impetuoso da mais agitada vida, e com uma rapidez e violência vai virando suas páginas”.

Johann Wolfgang von Goethe. Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister. São Paulo: Ed. 34, 2006.

quarta-feira, março 17, 2010

Uma alegoria da melancolia, 1528


Lucas Cranach, Uma alegoria da melancolia, 1528.

terça-feira, março 16, 2010

Sonhos hieroglíficos, sonhos divinos

Para Tânia


William Blake, O sonho de Jacó, c. 1800-3.

“Os sonhos do homem são de duas classes. Uns cheios de vida cotidiana e suas preocupações, seus desejos, seus vícios, combinam-se de uma maneira mais ou menos estranha com os objetos percebidos durante o dia que indiscretamente se fixaram sobre a vasta tela da memória. Eis o sonho natural; é o próprio homem. Mas e a outra espécie de sonho? O sonho absurdo, imprevisto, sem relação nem conexão com o caráter, a vida e as paixões do adormecido? Este sonho que chamarei de hieroglífico, representa evidentemente o lado sobrenatural da vida, e é justamente por ser absurdo que os antigos julgavam-no divino”.

Charles Baudelaire. Paraísos artificiais. Porto Alegre: L&PM, 1998.

segunda-feira, março 08, 2010

O Surrealista-Alquimista


Victor Brauner, O Surrealista, 1947.

“Os esforços dos surrealistas apresentam uma notável analogia, quanto ao fim a alcançar, com as pesquisas alquímicas: a pedra filosofal nada mais é que aquilo que deveria permitir à imaginação humana tomar de todas as coisas uma vingança fulgurante, e eis-nos de novo, depois de séculos de domesticação do espírito e louca resignação, tentando novamente libertar a imaginação pelo longo, imenso, racional desregramento de todos os sentidos”.

André Breton, “Segundo Manifesto do Surrealismo”, in: Manifestos do Surrealismo. Rio de Janeiro: Nau, 2001, p. 207.