terça-feira, abril 15, 2008

O Don Juan de Foucault


Cena da morte de Don Juan no filme "O olho do diabo," de Ingmar Bergman, 1960

Sob o grande infrator das regras da aliança -- ladrão de mulheres, sedutor de virgens, vergonha das famílias e insulto aos maridos e aos pais -- esconde-se uma outra personagem: aquele que é transpassado, independentemente de si mesmo, pela tenebrosa folia do sexo. Sob o libertino, o perverso. Deliberadamente, fere a lei, ao mesmo tempo algo como uma natureza desviada arrebata-o para longe de qualquer natureza; sua morte é o momento em que o retorno sobrenatural da ofensa e da vindita entrecruzam-se com a fuga para o antinatural. Esses dois grandes sistemas de regras que o Ocidente, alternadamente, concebeu para reger o sexo -- a lei da aliança e a ordem dos desejos --, a existência de Don Juan, surgindo de sua fronteira comum, derruba-os conjuntamente. Deixemos os psicanalistas se interrogarem para saber se ele era homossexual, narcisista ou impotente.

Michel Foucault, A história da sexualidade: I A vontade de saber, Ed. Graal, 2007, pp. 46-47.

Um comentário:

Pandora disse...

A despeito de qualquer coisa acho que Fourcault é um gênio e seus pensamentos influenciam os meus de forma muito definitiva, poucos foram tão competentes ao analisar os caminhos da história e nem era historiador... Ele era o cara e ainda é!!!