quarta-feira, março 28, 2007

Arte e Dor

Evidentemente se quiséssemos discutir todos os aspectos da questão arte e dor/violência deveríamos analisar ainda a função dessa arte em um registro que não o do âmbito muito restrito das Bienais e exposições de arte.


Peter Witkin, Woman once a bird, Los Angeles, 1990.

MÁRCIO SELIGMANN-SILVA

A arte contemporânea, apesar de ter conquistado uma esfera da liberdade estética oposta ao programa da educação estética da humanidade de um Schiller, representa uma esfera onde os principais problemas da contemporaneidade estão sendo refletidos e retrabalhados de um modo ao mesmo tempo vertiginoso e criativo.

Se para Schelling o artista era o mediador do Universal, hoje em dia tendemos a ver na sua arte a manifestação de um 'real' que assombra a nossa sociedade super-tecnológica. Essa arte decerto não pretende dar 'respostas' aos nossos atuais dilemas.

Mas cabe a nós dialogar com a 'arte da dor' que pode nos mostrar não apenas como pensar as fraturas das nossas identidades, mas também pode justamente nos ensinar a não esperar respostas completas e prontas para os desafios impostos pelo convívio em uma sociedade agredida pelas violências tecnológica, urbana e social, acuada pela questão da diferença e pelas duas vertentes mais irracionais da 'solução' dessa questão: a da globalização, que nega as diferenças e a do fundamentalismo, que reafirma a velha ontologia racista.

O campo do estético não pode mais ser pensado como independente do ético.

SELIGMANN-SILVA, Márcio. O local da diferença. São Paulo: Ed. 34, 2005, p. 56.

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