segunda-feira, maio 07, 2012
Encontro
"No encontro, maravilha-me o fato de ter achado alguém que, com pinceladas sucessivas, sem falhas, conclui o quadro da minha fantasia; sou como um jogador cuja sorte não se desmente e faz com que ele ponha a mão na pequena peça que vem, já na primeira tentativa, completar o quebra-cabeça de seu desejo. É uma descoberta progressiva (e como que uma verificação) das afinidades, cumplicidades e intimidades que poderei manter eternamente (no meu modo de ver) com um outro, em via de tornar-se, assim, 'meu outro': estou inteiramente voltado para essa descoberta (e com ela estremeço)(...). A cada instante do encontro, descubro no outro um outro eu mesmo: Você gosta disso? Puxa, eu também! Você não gosta daquilo? Eu também não! (...) O Encontro faz com que o sujeito amoroso (já seduzido) experimente o atordoamento de um acaso sobrenatural: o amor pertence à ordem (dionisíaca) do lance de dados".
BARTHES, Roland. "Encontro", in: Fragmentos de um discurso amoroso. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p.137-138.
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