terça-feira, agosto 28, 2007
segunda-feira, agosto 27, 2007
Homem Superior
A única atitude digna de um homem superior é o persistir tenaz de uma atividade que se reconhece inútil, o hábito de uma disciplina que se sabe estéril, e o uso fixo de normas de pensamento filosófico e metafísico cuja importância se sente ser nula.
PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 117.
PESSOA, Fernando. Livro do Desassossego. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 117.
Quem sou eu?
Giorgio de Chirico, A esfinge questionando Édipo, 1966.
“Quem sou eu? (...) Além de toda espécie de singularidades que reconheço em mim, de afinidades que sinto, de atrações que sofro, de acontecimentos que me ocorram e ocorram somente a mim, além da quantidade de movimentos que me vejo fazer, de emoções que somente eu experimento, esforço-me, em relação aos outros homens, por saber em que consiste, ou pelo menos se deve, essa minha diferenciação. Não será à medida exata que eu tomar consciência dela que poderei ficar sabendo o que vim fazer nesse mundo, e qual a mensagem ímpar de que sou portador, a ponto de só a minha cabeça poder responder por seu destino?”
André Breton, Nadja. São Paulo: Cosac & Naify, 2006.
quinta-feira, agosto 23, 2007
Sonhos de um Visionário
Das Schattenreich ist das Paradies des Phantasten.
KANT, Immanuel. "Träume eines Geistersehrs, erläutert durch Träume der Metaphysik". In: Immanuel Kant: Vorkritische Schriften bis 1768. Wiesbaden: Insel Verlag, 1998. p. 923.
O reino das sombras é o paraíso dos fantasistas.
KANT, Immanuel. "Sonhos de um visionário explicados por sonhos da metafísica". In: Escritos pré-críticos. São Paulo: Ed. Unesp, 2005, p. 143.
KANT, Immanuel. "Träume eines Geistersehrs, erläutert durch Träume der Metaphysik". In: Immanuel Kant: Vorkritische Schriften bis 1768. Wiesbaden: Insel Verlag, 1998. p. 923.
O reino das sombras é o paraíso dos fantasistas.
KANT, Immanuel. "Sonhos de um visionário explicados por sonhos da metafísica". In: Escritos pré-críticos. São Paulo: Ed. Unesp, 2005, p. 143.
terça-feira, agosto 21, 2007
Things that might have been
Penso nas coisas que poderiam ter sido e não foram.
O tratado de mitologia saxônia que Beda não escreveu.
A obra inconcebível que a Dante foi dado entrever, talvez,
Já corrigido o último verso da Comédia.
A história sem a tarde da Cruz e sem a tarde da cicuta.
A história sem o rosto de Helena.
O homem sem os olhos, que nos depararam a lua.
Nas três jornadas de Gettysburg, a vitória do Sul.
O amor que não compartilhamos.
O dilatado império que os Vikings não quiseram fundar.
O orbe sem a roda ou sem a rosa.
O juízo de John Donne sobre Shakespeare.
O outro corno do Unicórnio.
A ave fabulosa da Irlanda, que está em dois lugares a um só tempo.
O filho que não tive.
BORGES, Jorge Luis. "Things that might have been", História da Noite, Obras completas III. São Paulo: Globo, 1999, p. 207.
O tratado de mitologia saxônia que Beda não escreveu.
A obra inconcebível que a Dante foi dado entrever, talvez,
Já corrigido o último verso da Comédia.
A história sem a tarde da Cruz e sem a tarde da cicuta.
A história sem o rosto de Helena.
O homem sem os olhos, que nos depararam a lua.
Nas três jornadas de Gettysburg, a vitória do Sul.
O amor que não compartilhamos.
O dilatado império que os Vikings não quiseram fundar.
O orbe sem a roda ou sem a rosa.
O juízo de John Donne sobre Shakespeare.
O outro corno do Unicórnio.
A ave fabulosa da Irlanda, que está em dois lugares a um só tempo.
O filho que não tive.
BORGES, Jorge Luis. "Things that might have been", História da Noite, Obras completas III. São Paulo: Globo, 1999, p. 207.
sexta-feira, agosto 17, 2007
As Formas Literárias da Filosofia
Por Jeanne Marie Gagnebin
A imagem da literatura como sendo uma linguagem bela, mas vazia, que precisa de "recheio filosófico" para não se reduzir a uma brincadeira tão graciosa quanto fútil, tem seu oposto simétrico numa representação da filosofia como "pura" atividade intelectual, séria, profunda, complicada e incompreensível para o comum dos mortais (que, aliás, passa muito bem sem ela, o que torna questionável sua reiterada importância). Nesta estranha atividade, reservada a poucos, a comunicabilidade não importa tanto. Até no próprio meio filosófico, por exemplo na academia, reina certa desconfiança em relação aos aspectos formais mais apurados de uma palestra oral ou de um texto escrito de filosofia. Geralmente, estes aspectos são vistos como concessões ao público, ornamentos estilísticos prescindíveis, ou, ainda, como algo meramente metafórico ou meramente retórico. Ora, a afirmação implícita da existência de uma dimensão "meramente metafórica" ou "meramente retórica" repousa numa concepção acrítica, dogmática e mesmo trivial das relações entre pensamento e linguagem: como se o pensamento se elaborasse a si mesmo numa altivez soberana sem o tatear na temporalidade das palavras que, no entanto, o constitui. Dito de maneira mais simples: a concepção da literatura como algo belo, mas ornamental, superficial, supérfluo, e a concepção da filosofia como algo verdadeiro, mas difícil, incompreensível e profundo, esses dois clichês complementares perpetuam, no mais das vezes, privilégios estabelecidos e territórios de poder no interior de uma partilha, social e historicamente constituída, entre vários tipos de saber. Assim, os escritores e os poetas poderiam se dedicar ao sucesso e ao entretenimento, enquanto os filósofos continuariam aureolados pela busca desinteressada da verdade.
Na introdução ao livro citado no início deste artigo [As formas literárias da filosofia], Gottfried Gabriel afirma que a filosofia, desde seu nascimento, oscila entre duas formas de saber/sabedoria, entre a Dichtung (a criação poética no sentido amplo) e a Wissenschaft, a ciência no sentido mais rigoroso. No decorrer de sua história, podemos, então, observar um movimento pendular: quanto se aproxima demais da poesia, a filosofia envereda novamente para o lado da ciência -- e quando esta última ameaça abocanhá-la, ela se volta novamente para uma dimensão de sabedoria mais poética. Esta observação tem o mérito de apontar para o estatuto ambíguo da atividade filosófica, desde seu início grego. Marcel Détienne lembra que a figura do filósofo é uma formação híbrida oriunda da tradição religiosa da sabedoria, em particular do pitagorismo, e, simultaneamente, da afirmação, na polis democrática, da dignidade e do poder da palavra racional -- logos -- e da autonomia da organização política. Esta ambigüidade também pode ser vista como fonte de riqueza; ela perdura até hoje, sob configurações e refigurações históricas diversas.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. "As formas literárias da filosofia," in: Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006. pp. 201 e seguintes.
A imagem da literatura como sendo uma linguagem bela, mas vazia, que precisa de "recheio filosófico" para não se reduzir a uma brincadeira tão graciosa quanto fútil, tem seu oposto simétrico numa representação da filosofia como "pura" atividade intelectual, séria, profunda, complicada e incompreensível para o comum dos mortais (que, aliás, passa muito bem sem ela, o que torna questionável sua reiterada importância). Nesta estranha atividade, reservada a poucos, a comunicabilidade não importa tanto. Até no próprio meio filosófico, por exemplo na academia, reina certa desconfiança em relação aos aspectos formais mais apurados de uma palestra oral ou de um texto escrito de filosofia. Geralmente, estes aspectos são vistos como concessões ao público, ornamentos estilísticos prescindíveis, ou, ainda, como algo meramente metafórico ou meramente retórico. Ora, a afirmação implícita da existência de uma dimensão "meramente metafórica" ou "meramente retórica" repousa numa concepção acrítica, dogmática e mesmo trivial das relações entre pensamento e linguagem: como se o pensamento se elaborasse a si mesmo numa altivez soberana sem o tatear na temporalidade das palavras que, no entanto, o constitui. Dito de maneira mais simples: a concepção da literatura como algo belo, mas ornamental, superficial, supérfluo, e a concepção da filosofia como algo verdadeiro, mas difícil, incompreensível e profundo, esses dois clichês complementares perpetuam, no mais das vezes, privilégios estabelecidos e territórios de poder no interior de uma partilha, social e historicamente constituída, entre vários tipos de saber. Assim, os escritores e os poetas poderiam se dedicar ao sucesso e ao entretenimento, enquanto os filósofos continuariam aureolados pela busca desinteressada da verdade.
Na introdução ao livro citado no início deste artigo [As formas literárias da filosofia], Gottfried Gabriel afirma que a filosofia, desde seu nascimento, oscila entre duas formas de saber/sabedoria, entre a Dichtung (a criação poética no sentido amplo) e a Wissenschaft, a ciência no sentido mais rigoroso. No decorrer de sua história, podemos, então, observar um movimento pendular: quanto se aproxima demais da poesia, a filosofia envereda novamente para o lado da ciência -- e quando esta última ameaça abocanhá-la, ela se volta novamente para uma dimensão de sabedoria mais poética. Esta observação tem o mérito de apontar para o estatuto ambíguo da atividade filosófica, desde seu início grego. Marcel Détienne lembra que a figura do filósofo é uma formação híbrida oriunda da tradição religiosa da sabedoria, em particular do pitagorismo, e, simultaneamente, da afirmação, na polis democrática, da dignidade e do poder da palavra racional -- logos -- e da autonomia da organização política. Esta ambigüidade também pode ser vista como fonte de riqueza; ela perdura até hoje, sob configurações e refigurações históricas diversas.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. "As formas literárias da filosofia," in: Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34, 2006. pp. 201 e seguintes.
segunda-feira, agosto 13, 2007
Pequenos Passos
Para Cláudia Campos
Pas a pas
Nulle part
Nul seul
Ne sait comment
Petits pas
Nulle part
Obstinément
Passo a passo
Em parte alguma
Ninguém só
Sabe como
Pequenos passos
Em parte alguma
Obstinadamente
Poema de Samuel Beckett
dedicado a Herbert Marcuse
em seu 80º aniversário.
Pas a pas
Nulle part
Nul seul
Ne sait comment
Petits pas
Nulle part
Obstinément
Passo a passo
Em parte alguma
Ninguém só
Sabe como
Pequenos passos
Em parte alguma
Obstinadamente
Poema de Samuel Beckett
dedicado a Herbert Marcuse
em seu 80º aniversário.
Correspondência Rosemont/Marcuse
Marcuse Surrealista?
sexta-feira, agosto 10, 2007
terça-feira, agosto 07, 2007
No Centro do Tempo
14 de Maio de 1905
Há um lugar em que o tempo fica parado. Pingos de chuva permanecem inertes no ar. Pêndulos de relógios estacionam no meio de seu ciclo. Caẽs empinam seus focinhos em uivos silenciosos. Pedestres estão congelados em ruas poeirentas, suas pernas erguidas como se amarradas por cordas. Os aromas de tâmaras, mangas, coentro, cominho estão suspensos no ar.
À medida que um viajante se aproxima deste lugar, vindo de qualquer parte, ele anda cada vez mais devagar. As batidas do seu coração ficam cada vez mais espaçadas, sua respiração arrefece, sua temperatura cai, seus pensamentos diminuem, até que ele atinge o centro morto e pára. Pois este é o centro do tempo. A partir deste lugar, o tempo se distancia em círculos concêntricos -- inerte no centro, lentamente ganhando velocidade à proporção que aumenta o diâmetro.
Quem faria uma peregrinação ao centro do tempo? Pais com seus filhos, e amantes.
E assim, no lugar onde o tempo fica parado, vêem-se pais agarrados a seus filhos, em um abraço petrificado que nunca se desfará. A linda filhinha de olhos azuis e cabelos loiros nunca parará de sorrir o sorriso que está sorrindo agora, nunca perderá este brilho róseo de suas bochechas, nunca ficará enrugada nem cansada, nunca se ferirá, nunca desaprenderá o que seus pais lhe ensinaram, nunca pensará pensamentos que seus pais desconheçam, nunca tomará contato com o mal, nunca dirá a seus pais que não os ama, nunca deixará seu quarto com vista para o mar, nunca deixará de tocar seus pais como está tocando agora.
E, no lugar onde o tempo fica parado, vêem-se amantes beijando nas sombras dos prédios, em um abraço petrificado que nunca se desfará. O amado nunca tirará os braços de onde estão agora, nunca devolverá o bracelete de memórias, nunca viajará para longe da pessoa amada, nunca se sacrificará expondo-se a perigos, nunca deixará de mostrar seu amor, nunca sentirá ciúmes, nunca se apaixonará por outra pessoa, nunca perderá a paixão que existe neste instante do tempo.
É importante considerar que estas estátuas são iluminadas apenas por uma brandíssima luz vermelha, pois a luz fica reduzida a quase nada no centro do tempo, suas vibrações reduzidas a ecos em vastos desfiladeiros, sua intensidade diminuída ao bilho tênue dos vaga-lumes.
Aqueles que não estão exatamente no centro morto de fato se movem, mas no ritmo das geleiras. Uma escovadela no cabelo pode levar um ano, um beijo pode levar mil anos. Enquanto um sorriso é retribuído, estações passam pelo mundo exterior. Enquanto uma criança é abraçada, pontes são contruídas. Enquanto uma pessoa diz adeus, cidades desmoronam e são esquecidas.
E aqueles que regressam ao mundo exterior... Crianças crescem rapidamente, esquecem o abraço de séculos de seus pais, que para elas durou não mais que alguns segundos. Crianças tornam-se adultos, vivem separadas dos pais, vivem em suas próprias casas, desenvolvem seus próprias maneiras de fazer as coisas, sentem dor, envelhecem. Crianças maldizem os pais por tentarem segurá-las para sempre, maldizem o tempo pelas rugas em suas próprias peles e vozes ásperas. Essas crianças agora envelhecidas também querem parar o tempo mas em um outro momento. Querem congelar seus próprios filhos no centro do tempo.
Amantes que regressam descobrem que os amigos partiram muito tempo antes. Afinal, vidas se passaram. Eles transitam em um mundo que não reconhecem. Amantes que regressam ainda se abraçam nas sombras dos prédios, mas agora seus abraços parecem vazios e solitários. Logo esquecem as promessas feitas para durar séculos, que para eles duraram apenas segundos. Sentem ciúmes mesmo entre estranhos, falam coisas terríveis entre si, perdem a paixão, distanciam-se, envelhecem e se isolam em um mundo que não conhecem.
Alguns dizem que não se deve chegar perto do centro do tempo. A vida é um barco de tristeza, mas é nobre viver a vida, e sem tempo não há vida. Outros discordam. Prefeririam viver uma eternidade de felicidade, mesmo que essa eternidade fosse fixa e petrificada, como uma borboleta instalada em uma redoma.
LIGHTMAN, Alan. Sonhos de Einstein. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. pp. 67-71.
Há um lugar em que o tempo fica parado. Pingos de chuva permanecem inertes no ar. Pêndulos de relógios estacionam no meio de seu ciclo. Caẽs empinam seus focinhos em uivos silenciosos. Pedestres estão congelados em ruas poeirentas, suas pernas erguidas como se amarradas por cordas. Os aromas de tâmaras, mangas, coentro, cominho estão suspensos no ar.
À medida que um viajante se aproxima deste lugar, vindo de qualquer parte, ele anda cada vez mais devagar. As batidas do seu coração ficam cada vez mais espaçadas, sua respiração arrefece, sua temperatura cai, seus pensamentos diminuem, até que ele atinge o centro morto e pára. Pois este é o centro do tempo. A partir deste lugar, o tempo se distancia em círculos concêntricos -- inerte no centro, lentamente ganhando velocidade à proporção que aumenta o diâmetro.
Quem faria uma peregrinação ao centro do tempo? Pais com seus filhos, e amantes.
E assim, no lugar onde o tempo fica parado, vêem-se pais agarrados a seus filhos, em um abraço petrificado que nunca se desfará. A linda filhinha de olhos azuis e cabelos loiros nunca parará de sorrir o sorriso que está sorrindo agora, nunca perderá este brilho róseo de suas bochechas, nunca ficará enrugada nem cansada, nunca se ferirá, nunca desaprenderá o que seus pais lhe ensinaram, nunca pensará pensamentos que seus pais desconheçam, nunca tomará contato com o mal, nunca dirá a seus pais que não os ama, nunca deixará seu quarto com vista para o mar, nunca deixará de tocar seus pais como está tocando agora.
E, no lugar onde o tempo fica parado, vêem-se amantes beijando nas sombras dos prédios, em um abraço petrificado que nunca se desfará. O amado nunca tirará os braços de onde estão agora, nunca devolverá o bracelete de memórias, nunca viajará para longe da pessoa amada, nunca se sacrificará expondo-se a perigos, nunca deixará de mostrar seu amor, nunca sentirá ciúmes, nunca se apaixonará por outra pessoa, nunca perderá a paixão que existe neste instante do tempo.
É importante considerar que estas estátuas são iluminadas apenas por uma brandíssima luz vermelha, pois a luz fica reduzida a quase nada no centro do tempo, suas vibrações reduzidas a ecos em vastos desfiladeiros, sua intensidade diminuída ao bilho tênue dos vaga-lumes.
Aqueles que não estão exatamente no centro morto de fato se movem, mas no ritmo das geleiras. Uma escovadela no cabelo pode levar um ano, um beijo pode levar mil anos. Enquanto um sorriso é retribuído, estações passam pelo mundo exterior. Enquanto uma criança é abraçada, pontes são contruídas. Enquanto uma pessoa diz adeus, cidades desmoronam e são esquecidas.
E aqueles que regressam ao mundo exterior... Crianças crescem rapidamente, esquecem o abraço de séculos de seus pais, que para elas durou não mais que alguns segundos. Crianças tornam-se adultos, vivem separadas dos pais, vivem em suas próprias casas, desenvolvem seus próprias maneiras de fazer as coisas, sentem dor, envelhecem. Crianças maldizem os pais por tentarem segurá-las para sempre, maldizem o tempo pelas rugas em suas próprias peles e vozes ásperas. Essas crianças agora envelhecidas também querem parar o tempo mas em um outro momento. Querem congelar seus próprios filhos no centro do tempo.
Amantes que regressam descobrem que os amigos partiram muito tempo antes. Afinal, vidas se passaram. Eles transitam em um mundo que não reconhecem. Amantes que regressam ainda se abraçam nas sombras dos prédios, mas agora seus abraços parecem vazios e solitários. Logo esquecem as promessas feitas para durar séculos, que para eles duraram apenas segundos. Sentem ciúmes mesmo entre estranhos, falam coisas terríveis entre si, perdem a paixão, distanciam-se, envelhecem e se isolam em um mundo que não conhecem.
Alguns dizem que não se deve chegar perto do centro do tempo. A vida é um barco de tristeza, mas é nobre viver a vida, e sem tempo não há vida. Outros discordam. Prefeririam viver uma eternidade de felicidade, mesmo que essa eternidade fosse fixa e petrificada, como uma borboleta instalada em uma redoma.
LIGHTMAN, Alan. Sonhos de Einstein. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. pp. 67-71.
segunda-feira, agosto 06, 2007
O Sublime -- Caspar David Friedrich
Caspar David Friedrich, Monge no mar, 1809, óleo sobre tela, 110x172 cm, Nationalgalerie, Berlim
Caspar David Friedrich, Nuvens, c. 1820, óleo sobre tela, 18,3x24,5 cm, Kusthalle, Hamburgo
Caspar David Friedrich, Fim de tarde, 1827, Kunsthalle, Manheim
Caspar David Friedrich, Vista do Báltico, 1820-25, óleo sobre tela, Museum Kunst Palast, Düsseldorf.
Caspar David Friedrich, Árvore de corvos, c. 1822, óleo sobre tela, 59x73 cm, Museu do Louvre, Paris.
Caspar David Friedrich, Homem e mulher contemplando a lua, 1824, óleo sobre tela, 34x44 cm, Nationalgalerie, Berlim
Caspar David Friedrich, O peregrino sobre o mar de brumas, 1817-18, óleo sobre tela, 94,8x74,8 cm, Kunsthalle, Hamburgo
"A teoria do sublime do século XVIII se desenvolveu como parte do movimento tanto de autonomização das diversas artes, como também do sistema das artes (a Estética) com relação aos demais sistemas (político, religioso e moral). Esse conceito estabeleceu-se de modo paralelo a um conceito forte de imaginação. O indivíduo do romantismo do final do século XVIII e início do XIX estava plenamente familiarizado com a estética do sublime. Para se convencer desse fato, basta lembrarmos aqui as telas de um Kaspar David Friedrich que tematizam o incomensurável -- montanhas, planícies e o oceano."
SILVA, Márcio-Seligmann. "Do delicioso horror sublime ao abjeto e à escritura do corpo" in: O local da diferença: ensaios sobre memória, arte, literatura e tradução. São Paulo: Ed. 34, 2005, p. 39.
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