sábado, julho 28, 2012
"Uma vez só é nada"
"Isso possui, no erótico, as mais surpreendentes evidências. Enquanto um homem corteja uma mulher com a dúvida constante sobre seu assentimento, a satisfação só pode vir acompanhada dessa dúvida, isto é, como salvação, decisão. Contudo, mal ela se realiza nessa forma, num abrir e fechar de olhos pode tomar seu lugar um anseio novo e insuportável pela satisfação pura e simples. A primeira satisfação se consome na memória, mais ou menos na decisão, portanto, em sua função oposta à dúvida; ela se torna abstrata. Assim, esta única vez pode se tornar nula, comparada com a realização pura e absoluta. Por outro lado, porém, pode se desvalorizar também eroticamente como pura e absoluta. Por exemplo, quando uma aventura banal se nos afigura na memória muito próxima, brutal e repentinamente, e anulamos esta primeira vez, chamando-a de vez nenhuma, porque buscamos as linhas de fuga da expectativa para saber como a mulher se anula diante de nós como seu ponto de interseção. No Don Juan, o felizardo do amor, o segredo é como ele, com a rapidez do relâmpago conduz, em todas as suas aventuras, a decisão e a corte mais gentil, ao mesmo tempo, recupera, no êxtase, a expectativa e antecipa, na corte, a decisão. Esse 'de uma vez por todas' do prazer, esse entrelaçar dos tempos só pode ser expresso musicalmente. Don Juan exige música como lente ustória do amor". BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas, Vol. 2. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 208.
ótimo texto! à propósito, pra escrever sobre Ulisses, tive a ousadia de copiar uma imagem daqui!
ResponderExcluirbj e parabéns pelos escritos!