quinta-feira, março 12, 2009

Entre a arte e a vida, por Thomas Mann


Edvard Munch, Melancolia, 1894-95.

"Nós, os solitários," escrevera certa vez numa hora quieta de comunhão consigo mesmo, "nós, sonhadores isolados, deserdados pela vida, que gastamos nossos dias de introspecção perdidos num ar gélido e artificial, espalhando um sopro frio como que proveniente de regiões estranhas, sempre que estamos entre seres humanos vivos que veem nossas frontes marcadas com o sinal da sabedoria e do medo; nós, pobres fantasmas da vida, que somos recebidos com um olhar embaçado, e logo que possível deixados a sós, para que nosso olho vazio e perquiridor não sombreie a alegria... Todos nós acalentamos uma oculta e insaciável nostalgia das coisas inocentes, simples e reais da vida; um pouquinho de felicidade amável, devotada, humana e familiar. Aquela 'vida' da qual estamos apartados -- não a encaramos como uma beleza selvagem e um esplendor cruel, não é pelo extraordinário que possa conter que ansiamos por ela, nós, que somos os extraordinários. O reino do nosso nostálgico amor é o reino das coisas normais, agradáveis e respeitáveis, é a vida com tudo o que tem de tentador e banal; é isso que queremos..."

MANN, Thomas. Os famintos e outras historias. Trad: Lya Luft. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, p. 154.

Um comentário:

  1. Anônimo12:01 PM

    acabei de ler o conto os famintos e estou fazendo uma pesquisa rápida para aumentar alguns horizontes. me deparei com essa citação e o quadro do Munch.. ficou legal a associação, parabéns.

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