terça-feira, outubro 14, 2008

Insatisfação Administrada


Mc Marianne, em intervenção do grupo ativista The Yes Men.

Em novo livro, o professor de filosofia Vladimir Safatle discute como o cinismo é um antídoto à falência da crítica


O cinismo passa a ser compreendido como categoria maior para a análise das dinâmicas de racionalização em operação nas múltiplas esferas de interação social no capitalismo contemporâneo. Por que em seu entendimento trata-se de um termo adequado para um diagnóstico da modernidade?

Safatle: Há uma história intrincada de transformação da crítica cínica ao convencionalismo da moral (sentido do cinismo grego) em dispositivo de conservação de valores que estão reconhecidamente em crise (sentido do cinismo contemporâneo).

Tentei descrever este processo através do comentário de um texto fundamental para entender esta passagem, “O Sobrinho de Rameau”, de Diderot, juntamente com a interpretação feita por Hegel, na “Fenomenologia do Espírito”. Uma leitura detalhada desse texto central para a constituição da crítica no Iluminismo nos permite ter uma compreensão mais precisa do que vem a ser atualmente “cinismo”. Neste ponto, não faço mais que caminhar em um caminho aberto por Rubens Rodrigues Torres Filho e Paulo Arantes.

Este esclarecimento conceitual parece-me importante, porque o termo é usado de maneira bastante livre na linguagem cotidiana. No entanto, ele descreve uma operação precisa. Creio que podemos dizer: cínico é todo enunciado que faz com que valores, princípios e critérios normativos intersubjetivamente partilhados consigam, paradoxalmente, justificar situações que lhes seriam contrárias. Neste sentido, o cinismo é uma espécie de distorção performativa capaz de torcer, de inverter os valores ao aplicá-los. A análise desta inversão, diga-se de passagem, é um fenômeno maior no interior daquilo que poderíamos chamar de auto-crítica da modernidade.

Para ler a íntegra da entrevista originalmente publicada em Trópico, clique no título deste post.

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