quarta-feira, setembro 17, 2008
O grito do Laocoonte
Grupo de Laocoonte, Vaticano.
"O mestre [autor do Laocoonte] visava à suprema beleza sob as condições aceitas da dor corporal. Esta, em toda a sua violência desfiguradora, era incompatível com aquela. Ele foi obrigado a reduzi-la; ele foi obrigado a suavizar o grito em suspiro; não porque o grito denuncia uma alma indigna, mas antes porque ele dispõe a face de um modo asqueroso. Pois, em pensamentos, abra-se a boca do Laocoonte e julguemos. Deixemos que grite e olhemos. Era uma construção que suscitava a compaixão porque mostrava ao mesmo tempo beleza e dor; agora é uma construção feia, repugnante, da qual desviamos de bom grado a nossa face, porque a visão da dor excita desprazer, sem que a beleza do objeto que sofre possa transformar esse desprazer no sentimento doce da compaixão.
Esse simples largo abrir a boca -- pondo-se de lado o quanto as demais partes da face assim são deformadas e desordenadas de modo violento e asqueroso -- na pintura é uma mancha e na escultura uma cavidade que gera os efeitos mais desagradáveis do mundo."
LESSING, Gotthold Ephraim. Laocoonte ou sobre as fronteiras da pintura e da poesia. São Paulo: Iluminuras, 1998, p. 92.
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