quinta-feira, julho 29, 2010

A Repetição Diferente

O excesso de consciência histórica está
conduzindo a arte a uma “nova” episteme


por Márcio Seligmann-Silva


Marcel Duchamp, LHOOQ, 1919.

A questão proposta pela Documenta 12, “A modernidade é nossa Antigüidade?”, pode ser interpretada de diferentes maneiras. Também se pode tentar especular quais seriam as afirmações indiretas contidas nela. A primeira delas é que a modernidade é algo passado, já saímos dela e estamos em um espaço que, por falta de outro nome, alguns denominam de pós-modernidade. Mas podemos pensar também que estamos vivendo uma hipermodernidade, ou seja, que nossa época realiza de modo radical e paroxístico os principais ingredientes da modernidade (com sua tentativa de construir uma sociedade marcada pela liberdade, igualdade e fraternidade).

Eu particularmente tendo a acreditar que desde a Primeira Guerra Mundial e sobretudo após a Segunda Guerra Mundial a modernidade entrou em uma espiral de auto-desintegração, batizada por Adorno e Horkheimer de “Dialética do Esclarecimento”, de tal modo que já não podemos mais afirmar que o nosso “projeto” (ou nossos projetos) é o mesmo que dominou na modernidade. Mas com isto, evidentemente, apenas se coloca uma outra questão: como definir esta nova era, quais são nossos projetos? Temos projetos?

As diferentes nuances de interrogação contidas na pergunta inicial podem nos ajudar a responder, mesmo que de modo provisório e parcial, a esta busca de definição de nosso presente. Voltemos então à pergunta. “A modernidade é nossa Antigüidade?” pode significar: 1) a modernidade se tornou algo tão distante de nós quanto era a Antigüidade clássica, greco-latina, para a modernidade?; 2) o nosso presente é caracterizado pela mesma relação de mímesis e imitação da modernidade, que marcou a relação deste último período com a Antigüidade?

Estas duas modulações da pergunta inicial já trazem alguns problemas que não podem ser simplesmente postos de lado. O primeiro problema é a própria presunção de que se pode pensar no singular as categorias de modernidade e de Antigüidade. É impossível pensar a modernidade como um único momento que iria do século XIV ou XV até o século XX. Acho essencial se manter no mínimo uma divisão clara entre a “primeira modernidade”, que se estende até o final do século XVIII (i.e., até a Revolução Francesa e início da Revolução Industrial) e, por outro lado, o que podemos denominar de modernidade romântica (e pós-romântica) que se estenderia até meados do século XX. As vanguardas históricas se localizam, portanto, no fim da modernidade romântica. Por outro lado, a Antigüidade, que também está sendo tratada de modo singular por nossa pergunta, deve ser encarada justamente como um produto polimorfo destas duas modernidades: tanto da “Querelle des anciens et des Modernes”, que marcou o debate cultural europeu, de modo mais ou menos explícito, do século XVI ao XVIII, como do relativismo histórico pré-romântico do século XVIII e, ainda, do historicismo do século XIX.

Por uma questão de necessidade quase que didática, proponho utilizar aqui o termo Antigüidade na sua versão historicista e romântica, que logo apresentarei. Como veremos, a questão da imitação estava no cerne do debate em torno da definição da Antigüidade. Dito isto, podemos precisar melhor a questão inicial dividindo-a em diferentes momentos:

a) Qual era a relação da “primeira modernidade” com a Antigüidade? Tentaremos responder em largos pinceladas esta questão com base em Winckelmann, autor chave do final deste período.

b) Qual a relação do início da modernidade romântica com a Antigüidade? Kant, Friedrich Schlegel e Novalis apresentam algumas respostas importantes a esta questão.

c) Qual a relação da cena artística das últimas décadas com o passado? (Deixamos em aberto no momento a idéia de que as vanguardas históricas se tornaram uma espécie de “nova Antigüidade”.) Para responder a esta questão Walter Benjamin, Freud, Borges e alguns outros autores serão devidamente mobilizados.

Para ler este texto na íntegra, clique no título deste post.

7 comentários:

  1. Oi Aléxia, gostei muito do seu blog enfim o conteúdo que apresenta!
    Gostaria de poder publicar um artigo seu no meu blog se vc autorizasse!

    Abraços.
    Valéria
    http://valpinturas.blogspot.com/

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  2. Aléxia7:55 AM

    Oi, Valéria,

    obrigada pelo interesse no Dimensão Estética.

    Sim, você tem minha autorização para publicar meu artigo no seu blog.

    Abraços,

    Aléxia

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  3. Aléxia, agradeço muito!
    Já publiquei o artigo, obrigada,
    vou voltar aqui sempre que possível para acompanhar as informações que são muito interessantes!

    Abraço!

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  4. Srta. Bretas,

    O conteúdo de Dimensão Estética é como se diz por aí... "da ordem do encantamento".

    Abraços, de uma sempre leitora.

    Ângela

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  5. Aléxia8:33 PM

    Cara Ângela,

    Fico feliz por sua visita, gentileza e encanto.

    Seja sempre bem-vinda por aqui!

    Abraços,

    Aléxia

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  6. Impressionante suas reflexões. Gostei muito do blog, parabéns, acho que minhas visitas serão constantes a partir de agora.

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  7. Bruno Latour no seu livro "Jamais fomos Modernos" numa perspectiva da Antropologia Simétrica é um interessante ponto de vista sobre este tema.
    :)

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