sexta-feira, abril 02, 2010

Ecce Homo, Friedrich Nietzsche, 1888.

"Não sou nenhum bicho-papão, nenhum monstro moral -- sou até mesmo uma natureza oposta à espécie de homem que até agora se venerou como virtuosa. Cá entre nós, parece-me que justamente isso forma parte de meu orgulho. Sou um discípulo do filósofo Dionísio, preferiria antes ser um sátiro a ser um santo. Mas leia-se este escrito. Talvez eu o tenha conseguido, talvez não tenha ele outro sentido senão expressar essa oposição de maneira feliz e afável. A última coisa que eu prometeria seria "melhorar" a humanidade. Eu não construo novos ídolos; os velhos que aprendem o que significa ter pés de barro. Derrubar ídolos (minha palavra para ideais) -- isto sim é meu ofício. A realidade foi despojada de seu valor, seu sentido, sua veracidade, na medida em que se forjou um mundo ideal... O "mundo verdadeiro" e o "mundo aparente" -- leia-se: o mundo forjado e a realidade... A mentira do ideal foi até agora a maldição sobre a realidade, através dela a humanidade tornou-se mendaz e falsa até seus instintos mais básicos -- a ponto de adorar os valores inversos aos únicos que lhe garantiriam o florescimento, o futuro, o elevado direito ao futuro."
Friedrich Nietzche. Ecce Homo: como alguém se torna o que é. (São Paulo, Companhia das Letras, 2009, pp. 15-6).

Um comentário:

  1. Incrível como me deixo levar por supostos sentimentos da compreensão.

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