sexta-feira, abril 16, 2010

Dadá contra Weimar, 1919


Raoul Hausmann, Cabeça Mecânica
(O espírito de nosso tempo), 1920.

“Eu anuncio o mundo dadaísta. Eu rio da ciência da cultura, estes fusíveis de segurança de uma sociedade condenada à morte. O que me interessa saber como era Martinho Lutero?

Eu o imagino um homenzinho barrigudo. Ele era como o Encarregado do povo Ebert. Para que precisamos ler as falas de Buda – e melhor termos uma falsa imagem de excursos filosóficos. Ou saber que existiam no Cambriano libélulas gigantescas em cuja honra a pressão atmosférica era maior do que hoje. Ou que 227 bilhões de átomos fazemos uma molécula do tamanho de um décimo de milímetro cúbico. Mas ainda menos importantes do que estas incontrolabilidades são para mim os escritores sérios. Porque é melhor ser comerciante do que ser escritor.

O comerciante engana abertamente e só aos outros: isto está justificado no Código Civil. O escritor engana-se a si próprio quando fala por todos e está condenado por seu isolamento do mundo super-real. (...)

Eu não sou somente contra o espírito de Potsdam – eu sou antes de tudo contra Weimar. Consequências ainda mais lastimáveis que o velho Fritz acarretam Goethe e Schiller – o governo Ebert-Scheidemann foi uma consequência natural da inconsistência tola e ávida do classicismo poético. Este classicismo é uma farda, a métrica capacidade de vestir coisas que não tocam no viver”.

HAUSMANN, Raoul. "Protesto contra a concepção de vida weimariana", in: Der Einzige 14, 1919 apud BAITELLO JÚNIOR, Norval. Dadá-Berlim: Des/Montagem. São Paulo: Annablume, 1993, pp. 63-65.

Um comentário:

  1. Anônimo5:20 PM

    Muito interessante! Se o saber é exatamente a causa do caos, sua cessação é Harmonia! Indo mais além, o saber não está separado do pensamento! Mesmo a mais tímida experiência harmazenada no cérebro gera algum tipo de conhecimento! Então o conhecido é a causa do caos! A mente que esta além do tempo, não é presa a qualquer ideologia, cultura ou padrão estabelecido! O que esta além do tempo é a essência do homem religioso, o que o budismo chama de "iluminação"

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