quarta-feira, abril 30, 2008
Pandora
Nicolas Régnier, Alegoria das Vanitas, 1626.
Jules Joseph Lefebvre, Pandora, 1882
John William Waterhouse, Pandora, 1896
Louise Brooks em cena do filme "A caixa de Pandora," de G. W. Pabst, 1929.
segunda-feira, abril 28, 2008
Inestética, por Alain Badiou
"Por 'inestética' entendo uma relação entre filosofia e arte que, mantendo que a arte é em si mesma produtora de verdades, não pretende convertê-la em objeto para a filosofia. Contra a especulação estética, a inestética descreve os efeitos estritamente intrafilosóficos produzidos pela existência independente de algumas obras de arte."
Alain Badiou, Petit manuel d'inesthetique, Editions du Seuil, 1998.
Cildo Meireles, Zero Dollar, offset litogravura sobre papel, 6,5x15,5, 1974/1984.
Alain Badiou, Petit manuel d'inesthetique, Editions du Seuil, 1998.
Cildo Meireles, Zero Dollar, offset litogravura sobre papel, 6,5x15,5, 1974/1984.
quinta-feira, abril 24, 2008
Torre de Marfim?
"A filosofia muda o mundo ao manter-se como teoria." Theodor W. Adorno, 1969.
Spiegel: Ciência como torre de marfim, portanto?
Adorno: Não tenho temor algum da expressão torre de marfim. Essa expressão já teve dias melhores, quando Baudelaire a empregou. Contudo, já que o senhor fala de torre de marfim: creio que uma teoria é muito mais capaz de ter conseqüências práticas em virtude da sua própria objetividade do que quando se submete de antemão à prática. O relacionamento infeliz entre teoria e prática consiste hoje precisamente em que a teoria se vê submetida a uma pré-censura prática.
(...)
Spiegel: Seja como for, ocorre que os estudantes referem-se, às vezes direta e outras vezes indiretamente, à sua crítica da sociedade. Sem as suas teorias talvez nem tivesse surgido o movimento estudantil.
Adorno: Isso eu não quero negar; apesar disso, tenho dificuldade para captar essa relação. Estou disposto a acreditar que a crítica à manipulação da opinião pública, que vejo como inteiramente legítima também na forma de demonstrações, não teria sido possível sem o capítulo sobre "indústria cultural" que Horkheimer e eu publicamos na Dialética do Esclarecimento. Mas acredito que muitas vezes a relação entre teoria e prática é representada de modo demasiado sumário.
(...)
Spiegel: O Senhor continua a ver como a forma mais significativa e necessária da sua atividade na República Federal Alemã fazer progredir a análise das condições da sociedade?
Adorno: Sim, e mergulhar em fenônemos singulares muito determinados. Não me envergonho de tornar público que estou trabalhando em um grande livro de estética.
Theodor Adorno, Entrevista de Adorno, Revista Lua Nova 60, São Paulo, 2003, pp. 131-138.
Imagem: Mosaico moderno com um dos símbolos de Maria: a torre de marfim. Museu do Anjo da Guarda, Detroit, EUA.
Spiegel: Ciência como torre de marfim, portanto?
Adorno: Não tenho temor algum da expressão torre de marfim. Essa expressão já teve dias melhores, quando Baudelaire a empregou. Contudo, já que o senhor fala de torre de marfim: creio que uma teoria é muito mais capaz de ter conseqüências práticas em virtude da sua própria objetividade do que quando se submete de antemão à prática. O relacionamento infeliz entre teoria e prática consiste hoje precisamente em que a teoria se vê submetida a uma pré-censura prática.
(...)
Spiegel: Seja como for, ocorre que os estudantes referem-se, às vezes direta e outras vezes indiretamente, à sua crítica da sociedade. Sem as suas teorias talvez nem tivesse surgido o movimento estudantil.
Adorno: Isso eu não quero negar; apesar disso, tenho dificuldade para captar essa relação. Estou disposto a acreditar que a crítica à manipulação da opinião pública, que vejo como inteiramente legítima também na forma de demonstrações, não teria sido possível sem o capítulo sobre "indústria cultural" que Horkheimer e eu publicamos na Dialética do Esclarecimento. Mas acredito que muitas vezes a relação entre teoria e prática é representada de modo demasiado sumário.
(...)
Spiegel: O Senhor continua a ver como a forma mais significativa e necessária da sua atividade na República Federal Alemã fazer progredir a análise das condições da sociedade?
Adorno: Sim, e mergulhar em fenônemos singulares muito determinados. Não me envergonho de tornar público que estou trabalhando em um grande livro de estética.
Theodor Adorno, Entrevista de Adorno, Revista Lua Nova 60, São Paulo, 2003, pp. 131-138.
Imagem: Mosaico moderno com um dos símbolos de Maria: a torre de marfim. Museu do Anjo da Guarda, Detroit, EUA.
segunda-feira, abril 21, 2008
Persepolis, de Marjane Satrapi
quinta-feira, abril 17, 2008
Arcanos estéticos -- os crop circles
Os "crop circles," como ficaram conhecidos em todo o mundo, são figuras de aspecto geométrico e origem desconhecida, que aparecem ocasionalmente nos campos de plantação ingleses (mas não exclusivamente), despertando o interesse de cientistas, místicos e agnósticos.
Há quem aponte nestas intrigantes constelações pictóricas notáveis semelhanças com os fractais de Mandelbrot, com os arquétipos junguianos ou até mesmo com os calendários maia.
Controvérsias à parte, há em todo caso uma constatação sobre a qual não paira qualquer sombra de dúvida: a rara beleza de sua exuberante configuração estética.
terça-feira, abril 15, 2008
O Don Juan de Foucault
Cena da morte de Don Juan no filme "O olho do diabo," de Ingmar Bergman, 1960
Sob o grande infrator das regras da aliança -- ladrão de mulheres, sedutor de virgens, vergonha das famílias e insulto aos maridos e aos pais -- esconde-se uma outra personagem: aquele que é transpassado, independentemente de si mesmo, pela tenebrosa folia do sexo. Sob o libertino, o perverso. Deliberadamente, fere a lei, ao mesmo tempo algo como uma natureza desviada arrebata-o para longe de qualquer natureza; sua morte é o momento em que o retorno sobrenatural da ofensa e da vindita entrecruzam-se com a fuga para o antinatural. Esses dois grandes sistemas de regras que o Ocidente, alternadamente, concebeu para reger o sexo -- a lei da aliança e a ordem dos desejos --, a existência de Don Juan, surgindo de sua fronteira comum, derruba-os conjuntamente. Deixemos os psicanalistas se interrogarem para saber se ele era homossexual, narcisista ou impotente.
Michel Foucault, A história da sexualidade: I A vontade de saber, Ed. Graal, 2007, pp. 46-47.
segunda-feira, abril 07, 2008
Um animal sonhado por Kafka
Henri Rousseau, O sonho, 1910, óleo sobre tela 6' 8 1/2" x 9' 9 1/2", The Museum of Modern Art, New York.
É um animal com grande cauda, de muitos metros de comprimento, parecida com a da raposa. Por vezes eu gostaria de segurar sua cauda, mas é impossível; o animal está sempre em movimento, a cauda sempre de um lado para outro. O animal tem algo de canguru, mas a cabeça pequena e oval não é característica e tem alguma coisa de humana; só os dentes têm força expressiva, quer os esconda ou mostre. Costumo ter a impressão de que o animal quer me amestrar; senão que propósito pode ter ao retirar-me a cauda quando quero agarrá-la, e depois esperar tranqüilamente que ela volte a atrair-me, para logo tornar a saltar?
Franz Kafka
Jorge Luís Borges, O livro dos seres imaginários, São Paulo, Globo, 2000, p. 28.